30 janeiro 2011

Bridget Jones?!

Em fevereiro de 2006, eu iniciei este blog. Já fazia anos que vinha engordando e que estava tentando emagrecer. Eu pesava, naquela época, 82 quilos. Pois é. Muito pra quem tem 1,25m de altura. Pensava, então, em poder ter uma vida cheia de amigos, de trabalho, de estudos e de compromisso com o meu emagrecimento: uma Bridget Jones, por assim dizer. Cheguei até mesmo a mencionar isso naqueles dias. Agora imaginem, 5 anos mais tarde, tendo feito, nesse tempo, natação, hidroginástica, yoga, terapia com analista, reeducação alimentar, remédio de tarja preta de tudo quanto é jeito -- tudo sem resultado efetivo -- como eu me sinto.
Ser gorda, como diz a Maitena, em Mulheres Alteradas, é uma das piores coisas do mundo, e acho que todas concordam comigo. Além de a autoestima ir parar no dedão do pé, a gente não tem saúde pra nada e o ânimo pra sair e fazer tudo o que costumava fazer vai pro beleléu. O meu não é diferente: por causa da gordura, eu precisei mudar pra morar de volta com minha mãe depois de 14 anos morando sozinha, e me tornei bem dependente, sim. Quando eu viajo para os Estados Unidos a trabalho (e aproveito uns dias pra férias, também), sempre tenho muito apoio da equipe técnica que organiza os eventos e, também, de familiares e amigos que tenho por lá. Eu não fico sozinha, e quando eu tentei, a scooter fez o favor de quebrar. Foi um horror.

Hoje, eu peso 98 quilos. Podem ver ali na balança da coluna ao lado; eu a atualizei. Imaginem como me sinto. Alguém aqui tem ideia? Façam uma proporção. Se eu tivesse 1,70m, eu pesaria 133 quilos. Essa é a proporção, porque eu calculei na calculadora pra não ter erro. Alguém aqui passa por isso? Posso garantir uma coisa: estou cansada, cansada de tentar. Eu não ando, sou pequena, meu gasto calórico é mínimo, ou bem menor perto de quem anda.

Por muito tempo, eu cogitei a ideia de fazer a redução estômago, mais por insistência da família do que minha. Para mim, era sinônimo de mutilação e de covardia, de fracasso. Como se eu estivesse desistindo de tentar e escolhesse o caminho mais fácil.

A pergunta que eu faço é: fácil pra quem, cara-pálida? Deixar de comer pra saciar sua carência pessoal, pra saciar seu estresse ou sua depressão, e ter de comer certinho de 3 em 3 horas, ou você tem uma crise de hipoglicemia é fácil? Ter de tomar vitaminas todos os dias é fácil? Além disso, isso não libera a pessoa de ter de fazer exercícios -- pelo contrário, ela tem de se exercitar para não ficar com pelancas de pele sobrando e, mais importante ainda, para não perder massa muscular e, assim, ficar com cara de doente.

De uma forma ou de outra, eu tive crises histéricas (e quem classificou foi a psicóloga, e não eu) a cada vez que consultei um gastro para aventar a possibilidade de uma redução de estômago. Da primeira vez foi aqui em São José dos Campos. O médico é ótimo, é o médico que cuida da minha mãe, mas talvez pela minha insegurança e porque eu fui por insistente pedido da minha mãe, ele não me recomendou a cirurgia. Da segunda vez, dois anos depois, com a equipe do Dr. Garrido, em São Paulo, o médico recomendou a cirurgia sim, mas eu me asustei tanto ante a mudança radical que a gente tem na vida, que eu tive crise de nervoso depois, e no dia seguinte eu acordei sufocando e tive dor de cabeça. A cada vez que eu desistia da ideia, eu melhorava.

A questão é que todas as dificuldades de saúde e de locomoção impostas pela deficiência física aliada à obesidade mórbida não vão embora num passe de mágica. Mesmo com tudo isso, eu trabalho numa empresa multinacional, faço doutorado na USP e ainda tenho meus bicos de vez em quando. Só não saio como eu gostaria; não vou mais a São Paulo sozinha porque não aguento mais usar o triciclo, não faço mais ginástica, mal consigo me vestir sozinha, estou com a glicemia alta, e mais um pouco eu acabo me tornando diabética como meus pais. Há, como vocês devem saber, muitos outros problemas e dependências decorrentes dessa limitação, e que eu simplesmente não estou mais a fim de aturar.

Numa palavra, não quer mais me matar aos poucos. Não quero mais ser como Bridget Jones, embora eu adore a personagem, porque não quero mais estar acima do meu peso e me sentir mal com isso, em todos os sentidos. Eu disse isso à minha amiga Valéria em outubro passado, numa verdadeira crise para externar cansaço, frustração e muita tristeza. Eu pensei: de que adianta virar doutora nessa vida se eu vou acabar parando numa cama, ao invés de lecionar em uma universidade pública? Definitivamente, não é o que eu quero para mim.

Ao mesmo tempo, eu passei a ver colegas da empresa que fizeram a cirurgia e que estavam muito bem, e emagrecendo de forma contínua. Mais do que isso, eu vi o brilho nos olhos deles, de poder retomar atividades ou inaugurar outras que jamais tinham tido a chance de ter, fosse fazer exercícios, dançar ou experimentar uma roupa de tamanho menor. Então, a cirurgia começou a deixar de ser um monstro para ser uma possibilidade que comecei a estudar. Pela primeira vez, resolvi eu mesma procurar um médico para conversar sobre isso. Levei a ele as fotos de uma Fabiana magra, quando estava com uma amiga no Cepeusp, praticando esportes. Eu nunca fui preguiçosa; sempre gostei de fazer exercícios, mas engordar constantemente fui horrível; acabou com tudo. Levei a ele, também, um exame de sangue que eu tinha pedido à médica do trabalho para me passar, para que eu pudesse já levar alguma coisa para ele ver.

Dali para cá, foram meses de exames, muita oração, muita reflexão, e exercícios respiratórios. Sim, estou aqui para contar a vocês, hoje, que eu vou fazer a cirurgia de redução de estômago no próximo dia 3 de fevereiro, à noite. Rezem para que dê tudo certo. Estou me preparando para passar um mês inteiro na base do líquido, me alimentando de golinho em golinho, a cada 5 minutos, e pra retomar atividades físicas após os 30 primeiros dias de recuperação. Até que a dieta seja normalizada -- e entendam que a quantidade de comida será, obviamente, menor --, serão no mínimo 4 meses de readaptação e de preparo para essa vida nova.
Mais do que nunca, eu me basearei no princípio segundo o qual "a disciplina é a consciência da sua própria escolha". Eu escolhi ser magra. Eu ainda escolho ser magra. Fazer a cirurgia de redução do estômago não é o caminho mais "fácil", mas um caminho possível. Não é um milagre, é só o caminho para atingir o resultado. Nesse caminho, eu aprenderei a dominar a vontade, a tratar de forma diferente o estresse, a depressão, e a nova Fabiana que surgirá e terá de lidar com um corpo diferente, uma imagem diferente, novas abordagens sociais. São perspectivas maravilhosas, ainda que exijam muito de mim (e é bom que assim seja, para que eu sempre valorize a decisão e a própria vida), e que se estendem à frente, uma vez que decidi passar pelo batente dessa porta e depositar toda a minha fé e a minha vontade nisso. Dá medo? É claro que dá; quem é que não tem medo do desconhecido? Quem consegue racionalizar absolutamente tudo? Quem prevê o futuro? É normal ter medo, e eu encaro o medo como uma ponderação necessária e muito saudável. Só que é preciso vencê-lo para partir para o próximo passo e ver o que Deus guardou para quem tem a coragem de tentar. Como eu acredito Nele e em mim, estou mesmo acreditando que minha vida será muito melhor. De qualquer modo, vou contando aqui as mudanças todas. Até lá, pessoal.

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